Síndrome de Down e vacinação: existe diferença?
Com a pandemia, a corrida para conter a doença com uma vacina começou. Mas será que pessoas com síndrome de Down precisam de cuidados específicos quando o assunto é vacinação?
Em março deste ano, o Brasil ultrapassou a marca de 300 mil mortes de Covid-19 desde o início da pandemia. A média móvel, nesse período, ficou acima de 2 mil mortes por dia. O mais triste é saber que tantas pessoas estão morrendo por uma doença que já pode ser evitada através da vacinação.
Quando falamos em vacinação nos dias de hoje, é natural pensarmos no imunizante para a Covid-19. Porém não podemos esquecer que existem várias vacinas indispensáveis para a nossa saúde — em especial, para a saúde das pessoas com síndrome de Down.
Vacinas para a Covid-19 e para as outras enfermidades
A princípio, os pais de crianças com síndrome de Down devem seguir o calendário de vacinação geral e aplicar todos os imunizantes necessários a qualquer criança. Mas existem alguns cuidados especiais para as crianças com Down.
Por ser uma condição genética, a síndrome de Down influencia em diversos aspectos da saúde do indivíduo. Entre esses aspectos estão a maior propensão a doenças respiratórias e a possibilidade de desenvolver formas mais severas dessas enfermidades. Nesse sentido, vacinar as pessoas que têm Down contra essas doenças é necessário. Entre as vacinas mais importantes estão:
- Vacina contra o vírus Influenza, que causa a gripe comum;
- Vacina contra Pneumococo (Pneumo 23), que causa pneumonia;
- Palivizumabe, um tratamento profilático contra o VSR (vírus sincicial respiratório).
Esses três imunizantes são encontrados com facilidade em clínicas particulares e também podem ser recebidos na rede pública, desde que haja um atestado médico para comprovar a necessidade do mesmo, por conta da SD. Assim como as vacinas citadas acima, se recomenda também a da Hepatite A em crianças com Down, a partir de um ano.
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A Covid-19 e as pessoas com Síndrome de Down
Em relação às vacinas para a Covid-19, os especialistas dizem que não há nada que impeça as pessoas com síndrome de Down de tomá-las. Pelo contrário: elas deveriam ser prioridade na fila para receber o imunizante. Isso porque diversos estudos já comprovaram que quem tem a síndrome desenvolve formas mais graves da doença.
Um estudo realizado no ano passado, pela Universidade de Oxford, descobriu que as pessoas com SD têm cinco vezes mais chances de serem hospitalizadas e dez vezes mais chances de morrer, caso sejam infectadas pelo novo coronavírus.
Outra pesquisa realizada por cientistas dos Estados Unidos, ouviu 1046 médicos que atuaram junto a pacientes com síndrome de Down durante a pandemia. Foi descoberto que a Covid-19 se manifesta de maneira comum, com febre, tosse, cansaço, falta de ar… Entretanto, os pacientes com Down têm quadros mais graves da doença, com uma taxa maior de comprometimento dos pulmões e de mortalidade.
Possíveis causas desse fenômeno
Ainda são necessários mais estudos para descobrir as causas exatas desse fenômeno. Mas a principal hipótese levantada até agora é que a Covid-19 seja mais ameaçadora para as pessoas com síndrome de Down por causa das alterações genéticas relacionadas à condição.
O cromossomo 21, que as pessoas com Down têm em maior quantidade, abriga os genes TMPRSS2. Esse gene é o que codifica uma enzima usada pelo coronavírus para invadir a célula.
O sistema imunológico pode ser outro problema. O cromossomo 21 inclui vários genes responsáveis pela reação do organismo às doenças. Entre as alterações que a trissomia causa estão um maior número de receptores de interferon e células mais sensíveis à estimulação desses receptores. Isso quer dizer que o corpo da pessoa com Down reage de forma muito mais intensa ao vírus.
Sendo assim, a resposta até pode ser positiva num primeiro momento. Mas depois de alguns dias, o organismo pode sofrer com a tempestade de citocinas, uma reação inflamatória grave que está ligada à mortalidade.
As pessoas com síndrome de Down devem ser prioridade na vacinação?
Em parecer técnico enviado à Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down, especialistas em imunologia da UNIFESP afirmaram que as pessoas com Down devem estar no grupo prioritário de vacinação contra o coronavírus. As principais justificativas são os riscos de desenvolverem formas graves da doença e a alta taxa de mortalidade.
Além disso, os cientistas ponderam que não se tem certeza de como será a resposta do sistema imunológico das pessoas com Down à vacina, nem por quanto tempo a imunização irá durar. Mesmo assim, a proteção contra formas graves da Covid-19 justifica a prioridade na vacinação.
Outras entidades emitiram pareceres e notas técnicas semelhantes em todo o mundo. Por conta disso, países como o Reino Unido incluíram pessoas com síndrome de Down nos grupos prioritários para imunização. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos é outro exemplo disso.
Prioridade de vacinação no Brasil
Aqui no Brasil, faltam diretrizes nacionais para o calendário de vacinação. Cada estado ou município fica livre para tomar suas decisões. Em vista disso, a Federação Down decidiu se juntar às Secretarias Estaduais de Saúde para incluir as pessoas com síndrome de Down no grupo prioritário do calendário de vacinação.
No Piauí, por exemplo, as pessoas com Down começaram a receber as primeiras doses da vacina no final de março, junto com quem tem outros tipos de deficiência físicas e intelectuais. Por outro lado, em Juiz de Fora (MG), a Câmara de Vereadores chegou a aprovar um projeto para priorizar pessoas com deficiência, mas foi vetado pela prefeita com a justificativa de que o calendário do Ministério da Saúde é que deveria ser seguido.
Sendo assim, as pessoas com síndrome de Down e seus familiares devem acompanhar as atualizações da Secretaria de Saúde de seu estado e município para se informarem sobre a data de vacinação. Enquanto as decisões das autoridades não saem, a proteção continua sendo indispensável para evitar cenas tristes como a do jovem Emerson Júnior.
Em janeiro, uma foto dele ao receber oxigênio e sendo abraçado por um enfermeiro repercutiu na imprensa e nas redes sociais. Ele teve direito à UTI por ordem judicial, mas o leito foi liberado só depois da sua morte. Ele tinha apenas 30 anos.
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